sexta-feira, 13 de junho de 2008

Nascido a 13 de Junho



Não raras vezes, as hipóteses mais fantásticas nascem de uma pergunta simples, quase infantil: o que aconteceria se...? E como somente aos poetas todas as coisas parecem acontecer, apetece perguntar: o que aconteceria se Fernando Pessoa, o mais famoso morador do bairro, vivesse hoje em Campo de Ourique? Entre a irrealidade da sua vida quotidiana e a realidade das suas ficções, onde o levariam os seus passos? Que espaços frequentaria? A esplanada do Canas seria o cenário perfeito para escrever uma carta de amor a Ofélia, entre uma bica e um folhado? Faria uma paragem na agência de viagens Paragens, para comprar um bilhete de avião para visitar o seu amigo Mário de Sá-Carneiro em Paris? Passaria pelo Pereira’s para escolher uma gabardine preta exactamente igual à última? Encomendaria na Livraria Ler ao livreiro Luís Alves as obras “Máximas e Reflexões Morais” de La Rochefoucauld e “A Lisboa de Fernando Pessoa”, de Marina Tavares Dias?
Enquanto estivesse a fazer a barba no Costa Cabeleireiros, pediria a Álvaro de Campos que procurasse as “Folhas de Erva” de Walt Whitman na Bulhosa? Entraria no João Lopes Iluminação para comprar um candeeiro de design minimal para iluminar a sua mesa de trabalho, enquanto o futurista Álvaro de Campos se deslumbraria com o último modelo de portáteis na Selec? Ricardo Reis, o epicurista triste, iria consertar o seu relógio de bolso no Lugar do Tempo? O bucólico Alberto Caeiro falaria com as árvores e os melros do Jardim da Parada, aguardando a chegada de Bernardo Soares já com um Moleskine comprado na Oficina do Papel no bolso? Compraria o indispensável tabaco e o jornal do dia no Sonho da Teresa e faria um exame oftalmológico na Multiópticas, para escolher novas lentes com que olhar o mundo? Atravessaria a Rua Coelho da Rocha para entrar no Raio de Sol, a loja de produtos esotéricos onde poderia alimentar o seu gosto pelas ciências ocultas e horóscopos? Ao cair da noite, marcaria um jantar solitário na familiar Trempe, para saborear secretos de lombo de porco preto na companhia de vinho tinto?
Tantas perguntas sem resposta. Falta apenas uma: e se o poeta estivesse neste momento a responder-lhes em silêncio, no quadro de Almada Negreiros que habita as paredes da sua casa transformada em museu?

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá.
Não sei se é o localo exacto para fazer esta pergunta, mas sabes se este feriado o campo de ourique shopping tá aberto??
Obrigada

Anónimo disse...

Muito bom texto.