quarta-feira, 25 de junho de 2008

Memória do telemóvel, do cartão ou do coração?

Deixei a minha vida no táxi, pensei e sorri de forma visível perante a indiferença da cidade apressada, enquanto apanhava outro táxi, mas não o meu telemóvel, de regresso a Campo de Ourique. Talvez seja um sinal para começar uma vida nova, apenas com os números que sei de cor (par coeur, dizem os franceses e não deve ser por acaso). 6 números que tocam o meu coração e que o meu coração toca com as pontas dos dedos, sempre que os escolho e organizo, sem hesitar.
Já na Optimus, eis o que se passou: Precisei de uma 2ª via (que a bem dizer já deve ser a quinta ou sexta) e tive-a em menos de 3 minutos. Comprei um novo telemóvel da marca antiga, na esperança de encontrar um menu parecido e recuperei os meus ouvidos. Fiquei automaticamente contactável, apesar de quase não poder contactar, mas eis que duas chamadas (de números que nunca saberia identificar) e outras tantas mensagens me fizeram acreditar que recuperei a voz e que finalmente a cidade apressada me ouviu e até falou comigo. E tomei uma decisão. É desta que vou escrever todos os números que recuperar com a minha mão esquerda na agenda preta. Mas não os vou decorar. O novo telemóvel que os guarde no seu coração mecânico, alfabético, ordenado e incapaz de lamentar uma perda.
Quanto aos 6 números que sei de cor, com receio de que algo falhe na memória do meu coração, decidi guardá-los disfarçadamente nas letras M, G, R, A, V e J. Não vá um dia deixar o meu coração num táxi.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem dada, a volta ao texto (e ao incidente). Parabéns pela escrita luminosa, mesmo quando trata das sombras do quotidiano.