terça-feira, 18 de março de 2008

Entre o real e o imaginário



"O jogo é o atributo por excelência da criança. Tal como a obra de arte, é um objecto material, que serve de passagem entre o real e o imaginário"

Marie-Laure Bernadac


Cinco em linha

Alice nunca tinha visto um coelho com relógio.
Eu nunca tinha visto Alice por um binóculo.

"View-Master", o brinquedo vermelho, oferecia a magia das imagens na palma da mão.
Cada disco circular tinha 14 janelinhas quadradas.
Em cada disco circular, 7 imagens coloridas e tridimensionais.
A Alice e o Coelho, mas também a Rainha, o gato listrado, o bule de chá.

Com as duas mãos juntas e os dedos curvados, formo um binóculo.
Encosto os meus olhos, fecho-os e espreito para dentro, como Alice.
Vejo desfilar muitas janelinhas quadradas.
O prego, o rapa, o pião, o ábaco, o carrinho de linhas, o botão, a pulga, a bicicleta.
E também o monopólio, o loto, a caixa de sementes, o mikado, o lego, o realejo…

Transporto comigo um óculo sofisticado.
"Máquina fotográfica digital", o brinquedo quadrado, oferece a magia das imagens na palma da mão. Consegue armazenar mais de 1000, coloridas e tridimensionais.
Com ele recolho e selecciono as peças do próximo jogo:
Um caleidoscópio de muitas histórias e momentos, como contas…

Podia-se chamar "Jogo da Memória". Ou "Jogo da Pintura". Ou "Jogo dos Quadrados". Ou mesmo "Jogo da Pintura da Memória dos Quadrados ".
Contém 100 pequenas peças quadradas.
Coloridas e tridimensionais.
Em conjuntos de cinco, em linha.


Vanda Vilela, 2008

Desfiladeiro

Num período particularmente importante da história da União Europeia – com o novo alargamento das fronteiras e onde vagas maciças de imigrantes continuam diariamente a entrar, numa busca por melhores condições de vida no interior deste espaço geo-económico – conceitos como os de Integração/Exclusão são de novo chamados à “primeira página” dos noticiários e colocados em confronto com os de Território/Fronteira. Esta situação leva a equacionar que tipo de Europa desejamos e que relação procuramos estabelecer com os imigrantes que, a maior parte das vezes, nos são estranhos, podendo surgir como diferentes e ameaçadores.
Foi este o pretexto para a criação desta instalação inédita que agora apresento na Galeria Pedro Serrenho.
Trata-se de uma obra concebida para um “espaço específico" onde é abordada a problemática das migrações. O título “Desfiladeiro” surgiu como um reforço da ideia e como contextualização da minha posição sobre o assunto. Posição que é também evocada através da referência ao território da UE, não por ser a migração um problema que diz respeito apenas a esta parte do mundo, mas por ser este o local – privilegiado, por que não dizê-lo – onde me encontro e a partir dele o questiono, me questiono.

Carlos No, 2008


A Exposição de Pintura e Instalação, intitulada “Cinco em Linha” da artista: Vanda Vilela e a Instalação intitulada “Desfiladeiro” do artista Carlos No fazem parte da iniciativa LISBOARTE e estarão patentes até ao dia 3 de Maio de 2008, de Terça a Sábado das 11h às 20 horas.

Galeria Pedro Serrenho – Arte Contemporânea
Rua Almeida e Sousa nº 21 A Lisboa

sexta-feira, 14 de março de 2008

Quem Pássaros Receia, Milho Não Semeia


Quem Pássaros Receia, Milho Não Semeia, 2007
(Milho, pipocas, corante alimentar, sementes, arroz)
C-print, 40x60 cm, Ed. 3 + 1 PA

Dalila Gonçalves
Tempus Fugit
12 Março – 19 Abril
Visita orientada pela artista Sábado 5 de Abril às 17h


Tempus Fugit é a primeira exposição individual de Dalila Gonçalves (Castelo de Paiva, 1982, licenciou-se em Pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto em 2005, começou a exibir o seu trabalho em 2002 e desde então tem participado em numerosas exposições colectivas) que propõe a estruturação de dois núcleos de trabalho. A mostra de um núcleo de fotografias constitui uma reunião de registos essenciais no acompanhamento do processo de criação das intervenções realizadas recentemente em espaços públicos. Através destes registos, torna-se possível construir uma linha de memórias indispensáveis ao entendimento real das intervenções, permitindo que permaneçam como testemunhos únicos de momentos que ficaram retidos no manifesto da acção.
Num outro núcleo, a exposição de desenhos ganha contornos muito precisos de um trabalho directo executado pela artista; trata-se de uma série de desenhos em tinta-da-china inscritos num movimento de autonomia plástica que, muito embora, não quebrem com as premissas conceptuais delineadas no universo da intervenção. Tal como pequenas janelas de intersecção sobre um filme, estes desenhos são, num diálogo algo sublime entre a utopia e a realidade, perspectivas momentâneas e pontuais de um movimento que, contínuo ou descontínuo, se desenvolve procurando a ligação cíclica entre edificação e desmoronamento.
Dalila Gonçalves tem estabelecido para o seu trabalho uma linha de pesquisa que assenta, em larga escala, na pertinência da memória e, neste sentido, na valorização que ela assume dentro de todo um processo narrativo. A fotografia (e o desenho) é tomada como instrumento de registo que o vai assinalando desde a concepção, passando pela construção, por estados de alteração até à conclusão. Ironicamente, a fantasmagoria de um momento efémero fica suspensa na visibilidade objectiva de uma imagem. O momento passa e fica a possibilidade de o recordar. E é nesta flexibilidade da memória que por um lado se fixa mas que, por outro, facilmente circula veiculada numa imagem, que se estrutura um jogo de contradições deveras pertinente para este trabalho. Partindo da discussão de Alexandre Herculano sobre os monumentos, Dalila Gonçalves explora continuamente a ideia de que um monumento, outrora entendido com outras conformidades e resistências, é sobretudo um significante de memória e, por conseguinte, a imagem pode na contemporaneidade ser percepcionada como tal.

Caroline Pagès Gallery
Rua Tenente Ferreira Durão, 12 – 1º Dto.
1350-315 Lisboa
Tel. 21 387 33 76 / Tm. 91 679 56 97
gallery@carolinepages.com www.carolinepages.com
De 2ª a 4, das 12h às 17h, 5ª e 6ª, das 12h às 20h, Sábados das 15h às 20h e por marcação.

domingo, 9 de março de 2008

Nenhum lugar exacto

Em que esquina combinas dia-tal-às-tantas-horas, perguntas. E respondes, pela mesma mão esquerda (o lado do coração), que as esquinas são quase todas iguais – caminhos de trabalho, rastilhos de desejo, uma peça perdida do puzzle do acaso, um mapa de olhos fechados. Basta pensar nas ruas como se fossem veias, dizes, costurando um espaço em branco, uma esquina com nomes ainda por inventar. Artérias, não dizemos as artérias da cidade?

sexta-feira, 7 de março de 2008

Stop e pára o bairro


O Stop do Bairro é uma daquelas ordens a que se obedece com todo o gosto Afinal, quem pode resistir à morcela frita com ananás, ao caril de gambas, aos linguadinhos fritos com açorda, à fumegante cabidela, ao arroz de pato e ao pernil de cabrito feitos pela D. Rosa? Ou aos doces conventuais, ao cheesecake e ao arroz doce e a uma garrafeira de fazer inveja a muitos enófilos? Neste ambiente acolhedor habitado pelo sorriso do Sr. João a ordem é: Stop e pára o bairro.

Stop do Bairro
Rua Tenente Ferreira Durão, 55A 1350-Lisboa
T. 213 888 856
Terça>Dom: almoços e jantares

quinta-feira, 6 de março de 2008

Tocados pelos dedos do sol


Neste espaço de degustação viaja-se pelos mais deliciosos sabores mediterrânicos. Aqui, os gourmets começam por deambular pelas tábuas de queijos, presuntos e enchidos, continuam com as saladas, massas e doces e navegam num excelente vinho. Quando dão por isso, viajaram por Itália, Grécia, França, Espanha e Portugal. Na esplanada, à mesa ou em casa, a Maria da Fonte propõe combinações originais para que fique a conhecer melhor os frutos das terras que o sol toca.

Maria da Fonte
Rua 4 de Infantaria, 8 A 1350-271 Lisboa
Tel: 213 968 2 01
www.mariadafonte.pt info@mariadafonte.pt
Ter > Sáb, 8h>22h e Dom >10h às 22h

terça-feira, 4 de março de 2008

Na casa das máquinas de imaginar


Se a Bulhosa abre todos os dias as suas portas, os livros que habitam este espaço recebem os leitores de braços abertos.
Os livros de fotografia de Sebastião Salgado, Saudek e Annie Leibovitz apresentam pessoas que nunca viram e a colecção de cinema por décadas projecta imagens e diálogos do Nosferatu ao Pulp Fiction. Os livros de design escandinavo e cubano e os guias de viagens de Tóquio e Sidney levam por percursos imaginários e as personagens do teatro de Shakespeare, Brecht, Ibsen e Sarah Kane saltam das folhas dos livros para o palco da vida. Os livros de Paula Rego, Picasso e Frida Kahlo transformam-se em museus portáteis e as receitas de Jamie Oliver e Vítor Sobral espalham irresistíveis aromas no ar. Os livros de Frank Ghery e a Bienal de Arquitectura edificam novos conhecimentos e os livros esotéricos de Osho e Dalai Lama deitam por terra todas as ilusões. A poesia de Fernando Pessoa e Alexandre O’Neill convoca o prazer solitário da leitura e os romances de Paul Auster, José Saramago e Marguerite Yourcenar deixam escutar a voz de autores consagrados. Os livros infantis sobre dinossauros e robots fazem as crianças abrir os olhos de espanto e os contos como Alice no Pais das Maravilhas ou Pinóquio dão-lhes vontade de sonhar de olhos abertos. Afinal, não são os livros máquinas de imaginar?


Bulhosa
Rua Tomás da Anunciação, 68 B 1350-330 Lisboa
T. 213 839 000 Seg >Sáb, 10h às 22h, Dom, 10h > 18h
C.C. Amoreiras, Lj 1129 T. 213 812 250/4
Campo Grande T: 217 994 194/9
Twin Towers T: 217 221 074/9

Esconde-me em teus braços por esta noite


Assim, dá vontade de ser criança toda a vida. As paredes do quarto expulsaram a monotonia e têm colinas verdes com casinhas cor de rosa ou um mar muito azul com peixes e um farol vermelho. As almofadas ganham a forma de cães e girafas e partilham sonhos coloridos. As arcas de madeira ensinam jogos de palavras e os poufs com números dão uma pequena aula de matemática. Os abat-jours têm carrinhos para iluminar os dias mais cinzentos ou carneirinhos para contar e adormecer na noite que nasce. E na hora de dormir, a cama de madeira repete baixinho o sonho de todas as crianças: esconde-me em teus braços por esta noite.

Cristiana Resina
Rua Saraiva de Carvalho, 32B 1250-244 Lisboa
www.cristianaresina.com
T. 213 950 319 Tlm. 917 424 801
Ter>Sex,10h>13h30 e 14h30>19h e Sáb>10h>13h30

domingo, 2 de março de 2008

Tratado de paz


Ao domingo, Campo de Ourique respira fundo, vai à missa, dorme a sesta, folheia jornais e revistas. Ao domingo, o bairro saboreia a inutilidade preguiçosa e faz planos para os dias úteis que se avizinham. Ao domingo, Campo de Ourique almoça fora cá dentro, namorisca pelo jardim, espreita montras, recolhe-se nas casas acolhedoras, de janelas abertas. Às vezes, ao domingo, espreita outros bairros e, ao entardecer, regressa com um sorriso – sabe que não há outro igual.