quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Os cheiros do bairro



Fernando Assis Pacheco (1937-1995) gostava muito de Campo de Ourique, das suas ruas e dos seus meandros. Este poema, por exemplo, foi escrito no bairro. Fala do que há nele de mais intangível e capaz de abrir caminhos dentro da nossa memória. Está publicado em Musa Irregular, o livro que reúne a obra poética deste escritor que nunca deixou de ser, antes de tudo o resto, um extraordinário jornalista.
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CAMPO DE OURIQUE, LISBOA: OS CHEIROS

Sobre os cheiros podia falar infindavelmente o do amor é o mais feliz
aos 7, 8 anos eu tinha já as narinas despertas para o esplendor das rosas
antes de me curar dele para sempre amei o rasto da pólvora nos foguetes
sobre cheiros conheço uma quantidade de coisas que ninguém compendiou

soube mesmo que num dia melancólico de Outono
que cheirando a azedo foi porque me gastei por dentro
aquelas taxas de que se morre não estão famosas e
eu devia cheirar como – como o pasto as ervas doces! muito!
como as rosas! e só depois ficar pregado (seco) no muro de adobe

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